Salmo 89:38
Mas tu rejeitaste e aborreceste; tu te indignaste contra o teu ungido.
Este versículo, carregado de emoção e desapontamento, revela uma profunda fratura na relação entre o Divino e uma figura escolhida, o "ungido". Espiritualmente, ele ecoa a dor da rejeição, a amargura do abandono e as consequências da indignação Divina.
A palavra "rejeitaste" aponta para uma escolha consciente de afastar-se. No plano espiritual, isso pode significar o repúdio a um chamado superior, a negação de uma missão Divinamente ordenada ou a deserção do caminho da luz em favor de caminhos mais sombrios e egoístas. É um ato de livre arbítrio, mas com implicações cósmicas, rompendo o fluxo da graça e abrindo espaço para o sofrimento.
O termo "aborreceste" intensifica a rejeição, transformando-a em aversão. Não é apenas uma separação, mas um sentimento profundo de repulsa. Espiritualmente, isso pode refletir um descontentamento com os dons Divinos, uma inveja da própria capacidade de ser um canal da vontade superior ou uma amargura frente às responsabilidades que acompanham a unção. O aborrecimento, neste contexto, é um veneno que corrói a alma e a afasta da fonte de amor e aceitação.
A frase "tu te indignaste contra o teu ungido" revela o impacto da rejeição e do aborrecimento no plano Divino. A indignação não é uma raiva cega, mas uma reação justa à quebra de uma aliança, ao desrespeito a um propósito sagrado. O "ungido", aquele que foi escolhido e capacitado para uma tarefa especial, torna-se alvo da ira Divina por sua própria escolha de afastar-se da luz. Essa indignação não é vingativa, mas corretiva, buscando restaurar a ordem e o equilíbrio, e alertar sobre as consequências da desobediência espiritual.
A dimensão espiritual deste versículo nos convida à reflexão sobre nossa própria relação com o Divino. Será que estamos abraçando o nosso próprio "ungido interior", os dons e talentos que nos foram dados para cumprir nosso propósito? Ou estamos, por medo, insegurança ou egoísmo, rejeitando e aborrecendo essa parte de nós mesmos, atraindo para nós a indignação, não como uma punição, mas como um chamado ao despertar e à reconexão com nossa verdadeira essência?
Em resumo: Este versículo é um alerta sobre as consequências da rejeição do chamado Divino, o amargor da aversão aos dons espirituais e a reação inevitável quando se quebra uma aliança sagrada. É um convite à autoanálise e à busca pela reconciliação com o nosso próprio "ungido interior", a fim de trilharmos o caminho da luz e da realização espiritual.

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