Salmo 80:12

O versículo "Por que quebraste então os seus valados, de modo que todos os que passam por ela a vindimam?" é uma lamentação, uma indagação dolorosa sobre a permissão divina para que uma proteção seja removida, expondo algo valioso à exploração e ao saque. Espiritualmente, esse "algo" pode representar diversos aspectos da nossa vida: nossa alma, nossa fé, nossa saúde, nossos relacionamentos ou nossos dons.

Os valados, nesse contexto, simbolizam as proteções espirituais que nos cercam, as barreiras erguidas pela fé, pela oração, pela prática do bem e pela conexão com o Divino. São os limites que estabelecemos para nos proteger de influências negativas, tentações e energias destrutivas. Representam a disciplina, a vigilância e o esforço consciente para manter a integridade do nosso ser.

Quando questionamos por que esses valados foram quebrados, estamos, na verdade, expressando nossa angústia diante de situações de vulnerabilidade. Sentimo-nos expostos, desprotegidos, à mercê de forças que parecem nos consumir. É um grito da alma que se sente invadida, violentada em sua essência. É a dor de perceber que aquilo que considerávamos sagrado está sendo profanado.

A vindima, ato de colher as uvas, aqui assume uma conotação negativa. Não é a colheita dos frutos do trabalho árduo e da dedicação, mas sim a exploração oportunista, o saque predatório. "Todos os que passam por ela" representam aqueles que se aproveitam da nossa fragilidade, que se alimentam da nossa dor, que nos desviam do caminho da luz. São as influências negativas, as tentações, os pensamentos destrutivos que nos assaltam quando estamos mais vulneráveis.

A quebra dos valados, portanto, não é um ato arbitrário de um Deus punitivo, mas sim uma consequência de nossas escolhas, de nossos desvios, do enfraquecimento da nossa conexão com o Divino. Quando negligenciamos a nossa fé, quando nos afastamos da oração, quando nos deixamos levar por sentimentos negativos, abrimos brechas em nossas defesas espirituais, permitindo que as energias negativas nos atinjam. É um chamado à reflexão, um convite para reconstruir os valados da nossa alma, para fortalecer a nossa fé e para nos reconectarmos com a fonte de toda a proteção e amor.

Essa reconstrução envolve autoconhecimento, disciplina, prática do perdão, cultivo da gratidão e, acima de tudo, a busca constante pela presença Divina em nossas vidas. É um processo contínuo de vigilância e fortalecimento, para que, mesmo diante das adversidades, possamos manter a integridade do nosso ser e resistir às investidas do mal.