Salmo 77:9
Esqueceu-se Deus de ter misericórdia? Ou encerrou ele as suas misericórdias na sua ira? (Selá.)
O versículo "Esqueceu-se Deus de ter misericórdia? Ou encerrou ele as suas misericórdias na sua ira? (Selá.)" é um grito da alma, uma expressão de profunda angústia e dúvida diante do sofrimento. Ele não afirma uma realidade, mas questiona a aparente contradição entre a natureza divina, tradicionalmente vista como misericordiosa, e a experiência humana marcada pela dor e pela adversidade.
A pergunta "Esqueceu-se Deus de ter misericórdia?" reflete o sentimento de abandono que pode acometer o indivíduo em momentos de grande aflição. É como se a pessoa, imersa em seu sofrimento, não conseguisse mais vislumbrar a bondade divina, sentindo-se esquecida e desamparada. A misericórdia, que antes era uma certeza, torna-se uma lembrança distante, quase irreal.
A segunda parte do versículo, "Ou encerrou ele as suas misericórdias na sua ira?", intensifica ainda mais a angústia. Sugere que a ira divina, a retribuição pelas ações erradas, teria suplantado a misericórdia, impedindo-a de se manifestar. Essa ideia é particularmente dolorosa, pois implica que o sofrimento não é apenas uma provação, mas uma punição, um castigo imposto por Deus. A "ira" aqui não deve ser entendida como uma emoção humana de raiva, mas sim como a consequência natural das escolhas que nos afastam da harmonia divina, gerando desequilíbrios em nossas vidas.
O termo "Selá", presente ao final do versículo, é uma pausa, um convite à reflexão profunda sobre o que foi dito. É um momento para silenciar a mente e permitir que a alma absorva a intensidade da pergunta, buscando uma compreensão mais profunda da relação entre Deus e o sofrimento humano. "Selá" nos chama a contemplar a complexidade da fé e a reconhecer que nem sempre teremos respostas fáceis para as questões que nos afligem.
É importante ressaltar que este versículo, embora expresse dúvida e angústia, não deve ser interpretado como uma negação da fé. Pelo contrário, ele pode ser visto como um passo em direção a uma fé mais madura e profunda, que não se baseia apenas em dogmas e certezas, mas que se permite questionar, duvidar e buscar uma compreensão mais íntima da natureza divina. A dor e o sofrimento podem ser oportunidades para fortalecer nossa fé, nos aproximando de Deus através da busca por respostas e da confiança em Sua presença, mesmo nos momentos mais difíceis.

Confissões de Santo Agostinho - Edição de Luxo Almofadada

Alma ferida, alma curada: Os caminhos da fé para vencer os problemas
