Salmo 48:5

Este versículo encapsula um momento de profundo impacto espiritual e transformação, onde a visão do Divino ou do Sagrado causa uma reação avassaladora nas pessoas. A experiência não é de êxtase imediato e incondicional, mas sim um choque, um reconhecimento que abala as estruturas internas e provoca uma resposta complexa.

"Viram-no e ficaram maravilhados" sugere que a percepção inicial é de algo belo, transcendente, diferente de tudo que já foi experimentado. "Maravilhados" não implica necessariamente alegria, mas um assombro diante do inexplicável, um vislumbre de uma realidade superior que desafia a compreensão racional. A visão, seja literal ou metafórica, atinge um ponto sensível da alma, despertando uma admiração que beira o temor.

No entanto, a sequência "ficaram assombrados" revela que a experiência é mais do que simplesmente bela. A maravilha inicial se transforma em medo e apreensão. A assombração surge porque a visão do Sagrado confronta a pequenez do ego, a fragilidade das crenças limitantes. A luz intensa do Divino expõe as sombras internas, as imperfeições e os apegos que aprisionam a alma. Este reconhecimento pode ser doloroso e desestabilizador.

Finalmente, "e se apressaram em fugir" indica uma reação de proteção. Diante da magnitude do que foi visto e da perturbação que causou, a resposta imediata é o recuo. A fuga não é necessariamente covardia, mas sim uma necessidade de processar a experiência, de integrar a nova informação em um sistema de crenças que ainda não está preparado para ela. Fugir representa a tentativa de retornar à zona de conforto, ao conhecido, antes que a transformação seja completa.

Em um nível espiritual mais profundo, este versículo pode representar o momento em que a pessoa se depara com sua própria verdade, com seu potencial divino, e a princípio, sente-se inadequada ou incapaz de lidar com essa revelação. A fuga, neste caso, seria a resistência à mudança, o apego a velhos padrões e crenças que impedem o crescimento espiritual. A jornada espiritual, então, passa por superar esse medo e essa resistência, para abraçar a totalidade do Ser e permitir que a luz divina transforme a escuridão interior.