Salmo 45:10
Ouve, filha, e olha, e inclina os teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa do teu pai.
"Ouve, filha, e olha, e inclina os teus ouvidos..." Este início é um chamado à atenção, uma convocação da alma para despertar. "Filha" aqui não se refere necessariamente a uma relação familiar literal, mas sim a cada indivíduo em sua jornada espiritual, cada um de nós como um receptáculo do divino, uma parte inerente da grande Mãe Cósmica, da Fonte Criadora. É um apelo para que paremos o ruído incessante do mundo exterior e nos voltemos para a sabedoria interior, a voz sutil da intuição, a chama divina que reside em nosso coração. Olhar não é apenas ver com os olhos físicos, mas sim observar com a alma, perceber as nuances da vida, os sinais e sincronicidades que nos guiam em nosso caminho. Inclinar os ouvidos significa escutar com o coração aberto, sem julgamentos, sem preconceitos, receptivos à verdade que se revela em cada momento. É uma postura de humildade e entrega diante da sabedoria superior.
"...esquece-te do teu povo e da casa do teu pai." Esta é a parte que muitas vezes causa estranhamento, pois pode parecer um rompimento com as raízes e com a família. No entanto, em uma interpretação espiritual mais profunda, "povo" e "casa do pai" representam os condicionamentos, as crenças limitantes, os padrões de pensamento e comportamento que herdamos da nossa cultura, da nossa família e da sociedade. São as ideias pré-concebidas, os medos e as inseguranças que nos impedem de manifestar o nosso verdadeiro potencial, de seguir o caminho da nossa alma. Esquecer-se não significa abandonar ou desrespeitar os entes queridos, mas sim transcender as limitações impostas por essas estruturas, libertar-se das expectativas e dos julgamentos externos. É um convite para romper com o passado, para deixar para trás o que não serve mais e para abraçar a liberdade de sermos autênticos, de expressarmos a nossa essência divina sem máscaras ou disfarces.
É um processo de individuação, de reconhecer a nossa singularidade e a nossa conexão com o Todo. A "casa do pai" pode ser vista como a estrutura patriarcal da sociedade, com suas regras rígidas e hierarquias opressoras, que muitas vezes sufocam a criatividade e a intuição. Esquecer-se, neste contexto, significa libertar-se do controle externo e assumir a responsabilidade pela própria vida, tornando-se o mestre do próprio destino. É um ato de coragem e de autoafirmação, de reivindicar a própria soberania e de seguir o chamado da alma, mesmo que isso signifique ir contra a correnteza. É a jornada do herói, a busca pelo tesouro interior, que exige renúncia e transformação.
Em resumo, o versículo é um convite para uma profunda transformação interior, um chamado para despertar para a verdade do nosso ser. É um lembrete de que somos muito mais do que a nossa história, do que as nossas crenças limitantes, do que as expectativas dos outros. Somos seres divinos, capazes de amar, de criar, de manifestar a abundância e a alegria em nossas vidas. Ao ouvirmos a voz da nossa alma, ao observarmos com o coração aberto e ao nos libertarmos dos condicionamentos do passado, podemos trilhar um caminho de plenitude e de realização, cumprindo o nosso propósito divino na Terra.

Alma ferida, alma curada: Os caminhos da fé para vencer os problemas

Catecismo da Igreja Católica (edição de bolso)
