Salmo 22:29
Todos os que na terra são gordos comerão e adorarão, e todos os que descem ao pó se prostrarão perante ele; e nenhum poderá reter viva a sua alma.
Este versículo, em sua essência, nos convida a uma reflexão profunda sobre a natureza da adoração, a transitoriedade da vida e a inevitabilidade da morte, unindo ricos e pobres, poderosos e humildes, em um único destino. Vamos desmembrar a mensagem contida nele:
"Todos os que na terra são gordos comerão e adorarão..." A palavra "gordos" aqui não se refere apenas à obesidade física, mas sim a uma condição de fartura, prosperidade e abundância material. Representa aqueles que se encontram em posições de poder, riqueza e influência. O versículo nos diz que, mesmo esses indivíduos, repletos de bens terrenos e aparentemente seguros em sua prosperidade, participarão de um "comer" simbólico e, posteriormente, "adorarão".
Esse "comer" pode ser interpretado como uma participação nas experiências da vida, tanto as prazerosas quanto as dolorosas. Pode significar desfrutar dos frutos de seu trabalho e de sua posição, mas também pode se referir a enfrentar as consequências de suas escolhas e ações. Em seguida, a "adoração" implica um reconhecimento da força superior que rege o universo, uma força diante da qual até mesmo os mais poderosos se curvam, seja por livre e espontânea vontade ou por imposição das circunstâncias.
"...e todos os que descem ao pó se prostrarão perante ele..." Em contraste com os "gordos", temos os "que descem ao pó", uma clara alusão à mortalidade humana. Representa aqueles que estão no fim da vida, ou que já a perderam, retornando ao seu elemento original: a terra. A "prostração" aqui é inevitável. Não é uma escolha, mas sim uma consequência natural do ciclo da vida e da morte. Diante da iminência da morte, ou após a sua chegada, todos, sem exceção, se rendem à força maior que os transcende.
Essa parte do versículo nos lembra da igualdade fundamental entre todos os seres humanos. Riqueza, poder, fama e status social são apenas adornos temporários. No fim, todos retornamos ao mesmo ponto de partida: o pó. Essa consciência da mortalidade pode ser um poderoso catalisador para uma vida mais significativa, focada em valores eternos e em conexões autênticas com os outros e com o Divino.
"...e nenhum poderá reter viva a sua alma." Essa é a afirmação final e talvez a mais impactante. Reforça a ideia de que, apesar de todo o poder e riqueza que possamos acumular em vida, somos incapazes de reter a nossa alma, de evitar a morte física. A alma, a essência espiritual que nos anima, retorna à sua fonte original. Nenhum esforço humano, nenhuma posse material, pode impedir esse processo natural.
Em suma, o versículo nos convida a uma reflexão sobre a impermanência da vida, a inevitabilidade da morte e a importância de cultivar uma relação consciente com o Divino. Lembra-nos que a verdadeira riqueza reside em valores espirituais, na conexão com o próximo e na busca por um propósito maior que transcenda as preocupações materiais. Adorar, neste contexto, significa reconhecer a nossa pequenez diante da vastidão do universo e buscar viver uma vida com significado e propósito, em harmonia com as leis divinas.

Confissões de Santo Agostinho - Edição de Luxo Almofadada

Catecismo da Igreja Católica (edição de bolso)
