Salmo 102:24
Dizia eu: Meu Deus, não me leves no meio dos meus dias, os teus anos são por todas as gerações.
Este versículo, retirado do livro de Salmos (Salmo 102:24), clama pela continuidade da vida em face da percepção da brevidade humana. A alma se expressa em uma súplica fervorosa, um reconhecimento da finitude contrastando com a eternidade divina. É um grito que ecoa o anseio por cumprir um propósito, por testemunhar a manifestação da glória de Deus ao longo das gerações.
A frase "Meu Deus, não me leves no meio dos meus dias" revela um temor profundo diante da possibilidade de uma interrupção prematura. Não é meramente um medo da morte, mas sim uma apreensão de não alcançar a plenitude da experiência, de não completar a jornada que se acredita ter sido traçada. Implica uma crença em um potencial ainda não realizado, em talentos a serem desabrochados e em serviços a serem prestados.
Ao clamar para não ser levado "no meio dos meus dias", o salmista expressa um desejo de vivenciar a totalidade da vida que lhe foi concedida. É uma rejeição à ideia de ser interrompido no auge da produtividade, no momento em que se sente mais capaz de contribuir para o mundo e para o Reino de Deus. Há uma implícita confiança de que há ainda muito a ser feito, muito a ser aprendido e muito a ser oferecido.
A contraposição "os teus anos são por todas as gerações" estabelece um contraste poderoso entre a transitoriedade da existência humana e a perpetuidade de Deus. Reconhece que, enquanto a vida terrena é limitada e passageira, a divindade transcende o tempo, existindo em um eterno presente. A eternidade de Deus serve como um consolo e um fundamento para a esperança, lembrando que, mesmo diante da finitude, há um poder superior que governa o universo e sustenta todas as coisas.
A consciência da eternidade divina também oferece uma perspectiva sobre a própria vida. Ao reconhecer que os anos de Deus se estendem por todas as gerações, o salmista demonstra uma compreensão de que a vida individual é apenas uma pequena parte de um plano maior. Isso não diminui a importância da existência individual, mas a coloca em um contexto mais amplo, incentivando a viver de forma a deixar um legado positivo para as futuras gerações.
Em essência, o versículo expressa uma profunda reverência a Deus, reconhecendo Sua soberania sobre a vida e a morte. É uma súplica por misericórdia e uma declaração de fé na eternidade divina. Ao mesmo tempo, é um convite à reflexão sobre o propósito da vida e sobre a importância de viver cada momento com intenção e gratidão, buscando sempre honrar a Deus em todas as ações.

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